segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Pichações no muro do hospital Emílio Ribas

Esta história parece ter se iniciado assim: a pichação que trazia os dizeres "Brasil Nazista", segundo comerciantes locais, teria sido feita há cerca de um mês. Esta frase tentava encobrir uma pichação anterior que ainda podia ser lida, "Por um mundo mais colorido", e alguns símbolos anarquistas. Ao que parece, a frase sobre o mundo mais colorido pode estar ligada a um movimento chamado de anarcopunks, este grupo contrariando o pré-conceito que muitos tem sobre o anarquismo e a cultura punk, pregam o combate ao racismo e à homofobia. Já a outra frase é provável ter origem de um movimento skinhead, denominado como white power, que traz como ideologia a supremacia de uma raça, no caso a branca, sobre as outras, ligados ao neonazismo. O encontro entre os dois grupos, invariavelmente, termina em confusão. Importante ressaltar também que nem todo grupo skinhead é homofóbico ou racista, cita-se como exemplo o grupo denominado como RASH (Skinheads Anarquistas e Comunistas), que informam no seu blog acreditarem "na igualdade de todos os seres humanos, sem bandeiras, sem separatismo, sem preconceito ou qualquer barreira, seja ela de classe, cor de pele ou orientação sexual".

Na última sexta-feira, 18 de novembro, o muro do hospital voltou a ser pichado com frases nazistas, os funcionários do hospital fizeram um mutirão para pintar o muro e apagar as frases. O fato destas ações se darem no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, talvez não seja tão ao acaso assim. O hospital é referência no tratamento de doenças infecciosas no país, incluindo a aids. Não é preciso ir muito longe para lembrar que a aids no começo da epidemia, início dos anos 80, estava muito associada de uma forma pejorativa aos homossexuais. Uma das mensagens pichadas era "Fora Bichas". Cito o texto do Calligaris que fala sobre algumas motivações para a homofobia. 

O problema talvez não seja pertencer a um grupo (seja ele qual for), mas sim, acreditar que a intolerância seja de fato uma bandeira a ser seguida.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Homofobia e Homossexualidade

Cena do vídeo Encontrando Bianca, parte do kit anti-homofobia não divulgado nas escolas

Por Contardo Calligaris 
Folha de S. Paulo - 10 de novembro de 2011.

Experiência mostra que indivíduos homofóbicos sentem excitação diante a de estímulos homossexuais

Desde o fim do ano passado, em São Paulo, assistimos a uma série de ataques brutais contra homossexuais ou homens que seriam homossexuais aos olhos de seus agressores.

No fim de 2010, por decreto da Presidência da República, foi estabelecida a finalidade do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (parte da Secretaria de Direitos Humanos).


Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união entre pessoas do mesmo sexo como unidade familiar. Não me surpreende que uma explosão de homofobia aconteça logo agora, pois, em geral, o ódio discriminatório aumenta de maneira diretamente proporcional aos avanços da tolerância.

Funciona assim: quanto mais sou forçado a aceitar o outro como igual a mim, tanto mais, num âmago que mal reprimo, eu o odeio e quero acabar com ele. Mas por que eu preferiria que o outro se mantivesse diferente de mim? Por que não quero reconhecê-lo como igual? O termo de homofobia, inventado no fim dos 1960, designa, mais que um preconceito, uma reação emocional à presença de homossexuais (ou presumidos homossexuais), num leque que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão.


Numa entrevista na "Trip" de outubro (http://migre.me/6563w), apresentei a explicação clássica da homofobia do ponto de vista da psicanálise: "Quando as minhas reações são excessivas, deslocadas e difíceis de serem justificadas é porque emanam de um conflito interno. Por que afinal me incomodaria meu vizinho ser homossexual e beijar outro homem na boca? De forma simples, o que acontece é: 'Estou com dificuldades de conter a minha própria homossexualidade, então acho mais fácil tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja, condená-la, persegui-la e reprimi-la, se possível até fisicamente, porque isso me ajuda a conter a minha'".


Exemplo: se eu sinto (e não quero sentir) atração por um colega de classe do mesmo sexo, o jeito, para me convencer que não sinto atração alguma, é chamar esse colega de veado, juntar um grupo que, como eu, odeie homossexuais e esperar o colega na saída da escola para enchê-lo de porradas.

Um amigo me perguntou se essa interpretação da homofobia não era sobretudo uma forma de vingança: você gosta de agredir homossexuais pelas ruas da cidade? Olhe o que isso significa: você mesmo é homossexual. Gostou? O amigo continuou: "Isso não é bonito demais para ser verdade?".


Pois bem, anos atrás, pesquisadores da Universidade da Georgia selecionaram 64 homens que (na escala Kinsey) se apresentavam como sendo exclusivamente heterossexuais. Todos foram testados por uma entrevista (clássica, o IHP) que estabelece o índice de homofobia, de 0 a 100. Com isso, foram compostos dois grupos: os não homofóbicos (IHP de 0 a 50) e os homofóbicos (IHP de 50 a 100).


Nota: chama-se pletismógrafo um instrumento com o qual se registram as modificações de tamanho de uma parte do corpo. Pois bem, todos vestiram um pletismógrafo peniano, graças ao qual qualquer ereção, até incipiente e mínima, seria medida e registrada. Depois disso, todos os 64 foram expostos a vídeos pornográficos de quatro minutos mostrando atividade sexual consensual entre adultos heterossexuais, homossexuais masculinos e homossexuais femininos.


À diferença do que aconteceu com o grupo de controle (ou seja, com os não homofóbicos), a maioria dos homofóbicos teve tumescência e ereção significativas diante dos vídeos de sexo entre homossexuais masculinos. Confirmando a interpretação da psicologia dinâmica: indivíduos homofóbicos demonstram excitação sexual diante de estímulos homossexuais.


Existe a possibilidade de que a excitação manifestada pelos homofóbicos seja efeito, por exemplo, de sua vontade de quebrar a cabeça dos protagonistas dos vídeos -existe, mas é remota (porque os 64 indivíduos da amostra passaram todos por um questionário que mede a agressividade, e ninguém se mostrou especialmente agressivo).


Para quem quiser conferir, a pesquisa, de Henry E. Adams e outros, foi publicada no "Journal of Abnormal Psychology" (1996, vol. 105, n.3), com o título "Is Homophobia Associated with Homosexual Arousal?" (a homofobia é associada à excitação homossexual?) e é acessível na internet: http://migre.me/656Z4.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

De tempos em tempos

  • Sócrates acreditava que a escrita acabaria com a memória das pessoas, além de enfraquecer a mente e o raciocínio;
Sócrates no leito de morte. 1787, Jacques-Louis Daivid
  • Na Europa da Idade Média, após o surgimento da imprensa de Gutenberg, alguns pensadores acreditaram que a difusão maciça de livros provocaria uma banalização da cultura;
A prensa inventada por Johannes Gutenberg no século XV
  • As primeiras transmissões via rádio no Brasil, com ópera, recitais de poesia, concertos e palestras culturais, serviam apenas à elite não se destinava às massas;
A Rádio Nacional foi criada em 1936
  • Quando a TV começou a se popularizar, especulava-se sobre sua tendência e gosto excessivo pelo espetáculo, apelo demasiado à emoção, desprezo pela cultura, exposição de múltiplas violências... Estas notas acabariam por alienar as pessoas;
O mal do século
  • Com o surgimento do videocassete acreditou-se que as salas de cinema ficariam vazias;
Propaganda da Philco nos anos 80
  • A internet é acusada de deixar as pessoas mais burras e com baixa concentração;
Revista Galileu nº 229 - Agosto/2010