Na hora todo mundo ri, mas aqui a gente pode pensar: qual é a lógica, disso? O que o outro esperava, que o eco continuasse, SÁBADO NA BALADAAAA...? No mínimo, fica a expectativa em como a frase vai voltar. No máximo, É-GOO-O-O.
Lendo o texto de Adam Phillips sobre o amor, esse dizia:
"Do ponto de vista psicanalítico, os milagres de afinidade são ecos de nossos primeiros fascínios. Esses estados de absorção são a forma mais imediata de memória, a sensação de exclusividade, o sinal misterioso do passado. O que está sendo recrutado, ou melhor, evocado – o que possibilita essas experiências transformadoras – é o conhecimento e desejo da infância."
Para a física, trata-se da repetição de um som refletido por outro corpo. Na mitologia, amou Narciso em vão. Associado à logia torna-se o estudo de onde se vive. Para a semiótica, Umberto. Do ponto de vista psicanalítico, a palavra eco é um significante que comporta uma série de questões. Dentre elas, interessa-nos a função das palavras "ecoando" em nossos discursos, mas que somente são ouvidas, caso alguém se disponha a.
Assim como nosso amigo (engraçadinho) obteve como resposta do eco a última palavra dita em sua frase, independente do tamanho que esta assumisse, da mesma forma, a última palavra usada em nossas frases cumpre a mesma função. Explico: Uma vez ocupando o outro lado do divã, percebemos que há na fala do Sujeito uma espécie de jogo que, a todo momento, procura colocar o analista numa situação de cumplicidade. Um egodo, de fato. Não à toa, muitas pessoas tem a "mania" de terminarem suas frases com um sonoro "ENTENDEU?!"; "NÃO É!?"; "SABE?!"; "HEIN!"; "HUN!"...
Dentro de um bate-papo essas armadilhas estrategicamente montadas pelo inconsciente funcionam (terrivelmente) bem! A última palavra da frase dita pelo Sujeito torna-se um gancho que este outro se vê na obrigação de responder: "ENTENDI! ENTENDI!". Isso oferece algumas garantias, como por exemplo a ilusão de que o social existe, de que numa conversa estamos nos entendendo. A coisa se desmorona diante daquilo que o eco devolve. O gancho assume uma dupla função, ao mesmo passo em que é emissor torna-se também receptor. Não é incomum os pacientes se sentirem ameaçados diante do silêncio do analista num determinado momento da sessão, ainda mais naquelas horas em que se acabou de dizer algo que, supostamente escapou - note que agora estou falando de outro lugar; deitado no divã. É estranho pois tem-se a impressão de que a palavra fica reverberando na sala. Ao se ouvir, também se é visto. Percebe-se! Aquela palavra dita para comprometer o outro na lógica do discurso, revela um Outro que antes de fisgar qualquer outra pessoa, destina-se primeiramente ao próprio Sujeito. Lhe submete.
Quando algo assim acontece aquilo que o eco
devolve não é mais a última palavra da frase, foneticamente falando, até podem ser iguais, entretanto, é agora um novo Significante que deve
(re)assumir seu lugar dentro da cadeia do discurso. Isso se, e somente se, deixa de comportar a noção de repetição. Phillips
estabelece que nossos "fascínios" vividos numa primeira infância, marcam
a ponto de ecoarem em nossas escolhas futuras, criando inclusive o
estado de completude típico da paixão. Bom, no mais, batemos ótimos
papos. Não é!?...
( Enquanto terminava de ler o texto um desses engraçadinhos ai descia a rua onde trabalho entoando "delicia, delicia, assim você me mata" não contive o riso... ) Mais um ótimo texto, né? rs
ResponderExcluirMano, eles estão por toda parte... rsrsrs
ExcluirEco... achei muito interessante a resposta do eco ao engraçadinho inicial do texto EGO O OOOO.
ResponderExcluirNão consegui ir a aula, mas li o texto do Adam e já imagino as angústias sofridas e criadas na sala. Adorei o o texto e fiquei imaginando como o amor é a procura de um eco, que as vezes complementa, porque repete o fim da frase como se concordasse em tudo com o sujeito; ou que às vezes, como vc bem colocou, transforma as últimas palavras em meros sons que somos obrigados a ouvir de volta e que se estabelecem como perguntas, questionamentos, imposições às quais queremos fugir a todo instante.
Amar é ecoar a angústia de uma linguagem, algo que nos insere num campo simbólico que nunca será completo e onde sempre existira alguém, não para nos questionar diretamente, mas que nos faz perguntar a nós mesmos, "o que quer de mim, afinal?".
Demais, Paulo!!!
E a gente vê muitos relacionamentos terminarem, pois não há mais a pergunta que vc propõe: "o que quer de mim, afinal?". Questão que, talvez, seja muito mais interessante permanecer enquanto possibilidade de busca de respostas e não como algo pronto, decorado, na ponta-da-língua. Uma questão que faz eco.
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