segunda-feira, 4 de junho de 2012

A se-pa-ra-ção



Fui assistir ao filme A Separação, do iraniano Asghar Farhadi. Não porque alguém havia recomendado, ou dito que este filme levou o Urso de Ouro e 2 de prata (melhor ator e atriz) no último Festival de Berlim, mas sim porque estava passando no Cine Segall. Aliás, esta sala tem me levado a lugares espetáculares (Um Dia, O Artista, só para se ter uma ideia), parece que a sala é um lugar fora-do-lugar, mas esse já é outro assunto. 

O enredo do filme, apesar de se passar no Irã, não foge aos dilemas que se passa aqui ou acolá. Pior, trata-se de um drama que mais deixa perguntas do que oferece respostas. Assim, assistir ao filme não é algo lá muito confortável. Ouvi uma mulher dizer ao final do filme: "Ai que dor nas costas, esse cinema não é confortável!". Antes fossem as cadeiras almofadadas a fonte de incômodo (rsrs).  

Bom, a história é sobre uma família, Simin (Leila Hatami), Nader (Peyman Moadi) e a filha de ambos, Termeh (Sarina Farhadi, filha do diretor), que está prestes a se separar, pois Simin quer deixar o Irã para garantir um futuro melhor para Termeh. Nader não apóia a ideia não podendo deixar seu pai, doente de Alzheimer, sem cuidados. A história vai ganhando corpo com a entrada de Razieh, contratada por Simin para tomar conta do pai de Nader, porém Razieh está grávida e aceita o emprego sem seu marido saber. Após um incidente todos os personagens são postos em grandes dilemas que incluem justiça, religião, preconceitos, moral e claro, cultura.

O filme não apresenta julgamentos de valor, ou procura defender um ou outro lado, apenas expõe as situações com uma narrativa clara e precisa. O que causava um "NOSSA!" na fila de trás. Interessante notar como as tramas que vão surgindo entre Simin e Nader, Razieh e seu marido, Nader e Razieh, o marido de Razieh e Termeh, o pai de Nader e Razieh ou com o próprio Nader, Termeh e Nader ou Simin... enfim, quase sempre os conflitos envolvem a mesa de um juiz. Sempre envolvendo aspectos morais, religiosos ou até mesmo financeiro, como é o caso de Razieh e seu marido, os conflitos vão expondo a "vaidade" de cada personagem. 

Me parece que há nesta história toda uma denúncia social que o Irã vem sofrendo. Segundo Marcelo Hessel, no site omelete (uol): "No fim, o choque não é tanto entre estratos, mas entre dois momentos: o país que acreditava nos dogmas, numa predestinação social, e o país que hoje convive com a inevitabilidade da mudança, em que a cidadania se conquista diariamente". Porém, a denúncia faz eco em cada um de nós.

Seja em dogmas religiosos, conflitos morais, problemas financeiros, somos expostos ao que de mais arrogante se apresenta: nossa arbitrariedade. O termo "fogueira das vaidades", conforme vai se acentuando no filme vai tirando algo de nosso conforto, mesmo sentados em cadeiras almofadadas que nada tem de errado. Vamos percebendo que a resolução destes conflitos não será dada por um outro qualquer, vide que os juizes do filme não são aqueles quem decidem a trama da história. Só por curiosidade, na primeira cena do filme, o "olhar" do juiz é o que vemos na tela, ou seja, somos o juiz porém não é nosso o discurso (!!!). Os dilemas são internos, esse outro (com "o" minúsculo) são meros fantoches de um Outro (com "O" maiúsculo - conceito lacaniano denominado de grande Outro), pois vão sendo arrastados a um jogo de interesses que ganha corpo em seu próprio Outro, até o momento em que os discursos já não fazem mais sentido. Reina a mentira, ou melhor, a verdade de cada um. Cena marcante (spoiler alert!) é a do personagem que mais apresenta um comportamento violento durante todo o filme e, ao final, percebemos que a agressão é consumada em si mesmo. E, porque não! em nós, meros espectadores.

Para fechar duas coisas me ocorreram (ah! assistir ao trailer me causa arrepios... brrrr!),
- parte da música A montanha (Engenheiros do Hawaii): "sem final feliz ou infeliz... atores sem papel, no alto da montanha, à toa, ao léu..." e,
- uma tirinha que vi hoje no Facebook:


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