sábado, 24 de setembro de 2011

Para quem ouve Nirvana assim como eu


"Beat me outta me, beat it, beat it
Beat the outta me..." (Aneurysm)

Ontem fui assistir ao filme Melancolia, de Lars Von Trier, e antes do filme parei num bar pra comer alguma coisa. No telão do bar estava passando algo sobre o Nirvana, vi algumas cenas sem identificar de qual programa seria, até porque não estava interessado muito naquilo. Hoje passeando pela TV acabei parando na MTV, pois está passando o Unplugged do Nirvana. Ironia do caralho, porque hoje é dia de Rock in Rio!

Agora, "a viagem"... Na época do lançamento do álbum Unplugged eu contava com meus 15 anos, tinha um poster no quarto do Kurt Cobain, cara de chapado, segurando uma guitarra, modelo Stratocaster, preta e branca. Acredito que a "cara de chapado" era algo mais de minha percepção do que da foto em si, mas isso é um caso à parte. Um dia me dei conta de que minha guitarra era igual a guitarra do poster. A guitarra veio antes do poster, mas o Nirvana veio antes da guitarra. Assistindo o acústico agora na TV percebo que o Nirvana ainda me afeta! Fato que, pude constatar, dias atrás, ao ir no Morrison Rock Bar e ao ouvir Smells like teen spirit me peguei pulando, pulando e pulando. Na  época do Unplugged, nossa bebida favorita era Fanta com pinga, quando a vaquinha era magra, ou Fanta e vodka, quando a vaquinha rendia, fato que me levou ao mercado comprar Fanta e vodka (a vaquinha foi gorda...). Não havia para nós um ideal muito claro, queríamos curtir, ouvir rock, mas sobretudo distoar do algo que estivesse estabelecido. Minhas noites de insônia aos 15 anos era completada com o vídeo Live! Tonight! Sold out!, nesse vídeo havia um momento em que Kurt tocava Come as you are, e ao começar a cantar, gritava a letra. Essa é a lembrança da minha juventude... Talvez esse fosse o ideal... Talvez o fato de que assim como Kurt gritava, algo em nós gritava também. Parece que, infelizmente, esse grito acalmou com o passar dos anos. Ou então tomou outras formas de se expressar. Não à toa, chamei este lugar de formas de expressão.

Ao trabalhar com jovens, vejo que poucas coisas os afetam assim como o Nirvana tocava para uma juventude. Hoje temos funk, mr catra, nx zero, rihanna... Vai ver, daqui a 15 anos, alguém escreva no que será um blog futurista, sobre como a música Casa das primas do Mc Luan significou sua juventude meio sem sentido, com ideais um tanto quanto confusos...

Sem entrar em nostalgias, ou sentimenalismos. Prefiro pensar (ou melhor, parar de pensar) em como as músicas do Nirvana afetam em mim. Prefiro que elas toquem em algo que não sei dar nome, e que fique assim! Que faça sentido sem ter um sentido! Que seja visceral! Se me dão licença, tenho uma garrafa de vodka pra terminar...

2 comentários:

  1. Sensacional, Paulo! Acho que o texto está perfeitamente simples e, por isso, mexe com a gente, pelo menos mexeu comigo. Não curti tanto assim o Nirvana na época, apesar de adorar várias músicas deles, mas com certeza senti essa sensação de ir contra algo que eu nem sabia o que era a partir de outras bandas e etc. Talvez fosse o sentimento inaugural da nossa geração que crescia e via um mundo que caminhava para uma intensa falta de sentido, mas ainda aquilo tinha um sentido em nós.
    Como li num trabalho de pós nesses dias "“A maioria [...] sente-se insegura num mundo confuso e cheio de possibilidades
    de interpretação e, como alguns desses também estão comprometidos com diferentes
    possibilidades de vida sentem-se perdidos” (BERGER E LUCKMAN, 2004, p.54). Ou seja, a
    crise de sentido é um componente central na modernidade"
    De qualquer forma o que me atraiu foi o final do seu texto:
    "Prefiro que elas toquem em algo que não sei dar nome, e que fique assim! Que faça sentido sem ter um sentido! Que seja visceral!"
    De tão simples a descrição é perfeita: sabemos, sentimos que tem um sentido, um sentido sem nome, visceral, que não se explica e por isso mesmo mais forte. Acho que, afinal, eu também vou querer um gole dessa Fanta!

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  2. É Renan... Acho pouco plausível que os "sentidos" ou a falta destes se fechem na explicação do capitalismo, da sociedade de consumo, etc. Tem coisas que fazem sentido mas não tem nome e acredito que, muitas vezes, não precisam ter. Outra coisa é estar perdido! Já a fanta está à disposição!!! rsrs Encare isto como um convite!

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