segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Christine, meu objeto fálico


"There's a killer on the road
His brain is squirming like a toad"
(The Doors - p.482)


Um amigo acaba de comprar um carro. Seu comentário meses atrás era o seguinte: "não tenho namorada porque estou sem carro!". Recentemente, terminei de ler Christine, de Stephen King, o livro conta a trajetória de Arnie Cunninghan e sua mais recente aquisição, Christine, um Plymouth Fury 1958, vermelho e branco. Bom, as associações são inevitáveis, então vamos a elas.

Para quem conhece King, sabe que este livro é um dos melhores. Dennis e Arnie são amigos desde a infância, na pele de Dennis temos o típico garoto popular, atraente, atleta que namora uma líder de torcida, por outro lado Arnie encarna o papel oposto, é o nerd-saco-de-pancadas, tímido e desajeitado, que usa óculos fundo de garrafa e tem espinhas. Já no início da história Arnie compra um carro todo arrebentado de um velho (Roland Le Bay), ou seja, a ilustríssima Christine. Ao passo que Christine vai sendo restaurada, Arnie também vai mudando, seja em sua aparência física quanto à sua personalidade. Não dá para falar de King sem falar de mortes, aparições, e um pretensioso mistério em saber como o livro vai terminar...

Arnie arruma uma namorada, a belíssima Leigh Cabot, assim como meu amigo, que é bem provável que também esteja, logo mais, desfilando com uma garota. Deixemos o sobrenatural para os livros de King, mas tanto para meu amigo quanto para Arnie o carro significa um algo a mais. Já virou jargão dizer que o carro é um objeto fálico, mas o que isto quer dizer? Sem tentar entrar em psicologismos, poderia dizer que o carro cumpre algumas funções para as pessoas e por isso, acaba assumindo um lugar. Já ouvi que ter um carro é como sustentar uma família, devido às suas despesas, mas também já ouvi que o carro sustenta um privilégio. Quanto mais expansivo é seu valor no mercado, maior seria seu poder de atração, ou vão dizer que nunca olharam para a Mercedes alheia parada no farol... Se seu valor atrai olhares talvez seja pelo fato de que existe um discurso por trás do carro. Para Arnie, sua obsessão em desejar Christine casa com o desejo de Christine ser desejada, ai de quem ficar no caminho. Para meu amigo, ter um carro o autoriza a desejar. Munido desta assertiva, agora torna-se sedutor, não porque o carro vai emagrecê-lo, ou fazer suas espinhas sumirem, assim como fez com Arnie, mas porque seu discurso sobre o carro pressupõe mudanças. Independente do carro e seu contrato com o meio social, o que importa na verdade, é seu contrato com o proprietário. Explico: alguém pode ter um Porshe e ser o sujeito mais desiludido da Terra, ao contrário, um modesto carro pode fazer milagres se este ocupar um considerável lugar para seu portador. Tanto Arnie quanto meu amigo sabiam disso. O carro para eles não satisfaz o desejo, mas os autoriza a procurá-lo.

Anotei a seguinte frase em uma aula: "escolha bem o que vai amar, porque é aquilo que vai te matar". Será que se matássemos Christine, Arnie também morreria? Ou, se me permitem uma questão menos mórbida, se meu amigo vendesse seu carro, ele ainda se casaria? 

Link do livro (em pdf): http://www.megaupload.com/?d=AK7G9XLT

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