quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Memórias de um doente dos nervos (Schreber)

"Considerando que tomei a decisão de, em um futuro próximo, solicitar minha
saída do sanatório para voltar a viver entre pessoas civilizadas e na comunhão do lar
com minha esposa, torna-se necessário fornecer às pessoas que vão constituir meu
círculo de relações ao menos uma noção aproximada de minhas concepções religiosas,
para que elas possam, se não compreender plenamente as aparentes estranhezas de
minha conduta, ter ao menos uma idéia da necessidade que me impõe tais estranhezas
."
  
            


           

          No anexo da carta datada de 29 de agosto de 1894, conhecida como “Rascunho H” Freud escreve à Fliess sobre algumas considerações acerca da paranóia. Relata ao amigo que as idéias delirantes estão ao lado das idéias obsessivas como distúrbios intelectuais, assim sendo, se as idéias obsessivas estão ligadas a um conflito, logo as idéias delirantes devem possuir a mesma validade. Freud fala nesta carta da paranóia como um “modo patológico de defesa” assim como a histeria e a neurose obsessiva. Sustenta que “o propósito da paranóia é rechaçar uma idéia que é incompatível com o ego, projetando seu conteúdo no mundo externo” (Freud, “Carta 21”, 1894).
            Não é à toa que tanto Freud quanto Lacan abordam o livro de Schreber quando o assunto é psicose. A descrição de Schreber sobre os acontecimentos ocorridos com seu corpo, com sua integridade, são impressionantes. Quando pensamos em delírio, temos a ideia de algo desorganizado, desestruturado, mas ao ler o livro de Schreber vemos que essa concepção é a primeira a ser quebrada. Numa cadeia discursiva envolvente, o autor vai nos esclarecendo qual é sua real missão para com a humanidade, não apenas a sobrevivência das almas humanas e a ordem das coisas e do mundo estão em jogo, mas também toda a verdade sobre a natureza e a existência de Deus. Segundo as palavras do próprio Schreber, "'o que acontecerá com esta maldita história?' e 'O que será de mim?'... assim soam as perguntas que há anos são faladas dentro da minha cabeça, numa repetição sem fim..."    

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