segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Gordos

Inicia-se a sessão de terapia em grupo com 10 participantes mais o terapeuta, relatando que o objetivo não é tratar pessoas que querem perder peso, mas sim buscar as causas da obesidade, não haverá nenhuma dieta, não haverá o estabelecimento de objetivos, pois isso traria outras frustrações, cada um deverá encontrar seu próprio caminho ao seu próprio rítmo, devem criar um projeto onde vão ajudar uns aos outros, fazendo perguntas mútuas e que para isso devem buscar as respostas dentro de si, para tanto devem desnudar-se...literalmente! Esta sessão termina com 4 participantes, incluindo o terapeuta.

É assim que o filme Gordos, com direção do espanhol Daniel Sánchez Arévalo, propõe um tratamento não apenas para a obesidade, mas também para a saúde, o sexo, as fobias, obsessões, a culpa, o desejo, os clichês...
Vamos aos protagonistas:  Enrique é ex-apresentador de um programa para tratar da obesidade, mas que ao engordar quebra o contrato perdendo seu emprego, é homossexual mas decide manter um relacionamento com a mulher de seu ex-sócio, acreditando ser um heterossexual reprimido; Andres trabalha na polícia científica, todos seus familiares morreram aos 50 anos devido aos problemas causados pela obesidade, Andres está com 49 anos; Leonor é engenheira de telecomunicações, trabalha em casa, seu namorado também engenheiro, com quem está junto há 12 anos, iam para a academia, comiam comidas saudáveis, está há 5 meses nos Estados Unidos para fazer um trabalho por um ano, se falam todo dia e ele não sabe do "atual" estado de Leonor; há também Sofia, que passa a fazer parte do grupo terapêutico, trabalhava vendendo perfumes num shopping, atualmente trabalha no telemarketing de uma multinacional, mas por alguma razão passa a se sentir desconfortável, junto com seu noivo levam uma vida religiosa, porém estão ansiosos para transarem... se Deus não fosse onipresente, onisciente...

Isto é apenas o começo, o filme acaba envolvendo todos os integantes não apenas em suas próprias angústias e obsessões, mas vai também criando contradições, estabelecendo possibilidades, permitindo viverem, nem que seja na mediocridade de suas frustrações. Impossível não se identificar com um personagem ou uma situação que seja, afinal, não é a vida repleta de excessos e carências?!

2 comentários:

  1. Parabéns pela indicação do filme Paulo, realmente, muito bom. O fato/personagem que achei mais curioso foi o próprio terapeuta, que foi o único, que de forma ou outra, se manteve na análise continuamente, e não feliz, formou outro grupo pós análise. Achei isso curiso, sei que é a profissão dele, mas, Lacan diz que um analisando pode se tornar um analista, encaixa-se aqui no sentido contrário, só sendo analista, que ele (talvez) conseguirá ser analisado.Viajei demais? rs...

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  2. Valeu pelo comentário! Tinha um professor que dizia o seguinte, fazer análise não é para todos e não estou falando em elitismo. Concordo, pois nem todos estão dispostos a se deitar no divã, muitos menos falar daquilo que, muitas vezes, nem querem saber que sabem. Por outro lado, uma vez dispostos, não necessariamente já tendo sido terapeuta, a análise torna-se possível.

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