quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Violência escolar

Assisti ontem o documentário Bullying Fatal, que conta a história da jovem Phoebe Prince. Esta muda-se com a família da Irlanda para os Estados Unidos, sendo perseguida na nova escola numa pequena cidade de Massachusetts, por um grupo de adolescentes. Ao que parece esta história teve início quando Phoebe sai com dois dos garotos mais populares da escola. Para os alunos antigos, esta atitude foi algo como "furar a fila", pois como é que uma caloura consegue sair com os garotos mais disputados antes de todas as outras? Phoebe sofre por meses com provocações, perseguições e ameaças, nem mesmo em sua casa encontra paz, sendo que, as ameaças continuam na internet e pelo celular. Entre os agressores, estão as meninas mais populares da escola, líderes de torcida, e os rapazes com o qual Phoebe saiu. Este evento culmina no suicídio de Phoebe.

O caso provocou comoção em todo o país, levando a algumas mudanças na legislação, questionamentos sobre o papel das autoridades e, principalmente, o lugar da escola (alunos, professores, dirigentes...) nos casos de bullying.

Gostaria de ressaltar uma coisa. Na instituição onde trabalho, desenvolvemos oficinas onde os frequentadores (crianças e adolescentes) tem a oportunidade de trabalhar com temas dos quais possuem maior interesse, assim já desenvolvemos atividades voltadas ao tema gravidez, aborto, contos de fadas, sexualidade, vícios, famílias, entre outros. Para se chegar a um tema em comum, é realizado um encontro onde podem discutir e trocar interesses e, num desses encontros foi sugerido por um dos educadores o tema bullying. Para nossa surpresa o tema foi rejeitado por todos, sob o argumento de que a escola já está falando disto. Mas, onde está a surpresa? Afinal, o bullying é uma nova palavra para designar algo que já acontece no ambiente escolar há muito tempo. Nada melhor do que a escola para tratar dos problemas vivenciados na escola! A expressão que os jovens usaram para dizer que o tema já vem sendo dito foi: "a gente não aguenta mais falar disso!", "é todo mundo que vem falar com a gente, psicólogos, professores, policiais, diretores...", "são filmes, palestras, discussões...".

Interessante o fato de que a escola parece não reconhecer seus limites, ou dito de outra forma, a escola acaba sendo também um agente no circuito que a violência assume neste ambiente. Ouvir os adolescentes dizerem que estão de saco cheio do tema bullying, soa também como uma violência. O tema é tratado sob o formato das aulas, onde aquele que sabe passa seu conhecimento para os que não sabem. E todos sabemos que este formato já há muito está batido! Ou nunca ouviram falar de Educação Bancária?! onde os meros alunos são depositários do saber?!... Pouco se faz quando o assunto é discussão, especialmente nas escolas. Vemos que este tipo de postura vem acontecendo, claro! Mas, de fato está a escola preparada, ou aberta a ouvir o que o jovem traz??? Ela reconhece a demanda de seus alunos, ou o velho discurso de "não sabem o que querem" ainda é válido? Acompanhando a indignição dos nossos atendidos, percebemos que agora são duas. Não aguentam mais a violência na escola e não aguentam mais a escola falando de violência!

Isso só reforça aquilo que o sociólogo Erving Goffman já havia dito sob o caráter das instituições totais, como um local onde um grande número de indivíduos, separados da sociedade por um considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada por outros. Estas instituições possuem o caráter de causar, através deste jogo de poder e repressão, o que Goffman chamou de mortificação do eu

Instituições como presídios, manicômios, hospitais e também as escolas acabam por produzir aquilo que deveriam combater.

Goffman, E. (1987). Manicômios, prisões e conventos. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva.

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